quinta-feira, 10 de julho de 2014

Quem são as gueixas?

São mulheres da sociedade japonesa que se dedicam às artes e à preservação das tradições daquele país. Uma gueixa se especializa em canto, dança, música e poesia para oferecer à elite local sua companhia culta e sofisticada em festas e recepções. Elas são parte fundamental da cultura japonesa desde o final do século 17. "O papel das gueixas mudou várias vezes com o passar do tempo. No Japão moderno elas zelam pelas artes tradicionais. Ainda assim o papel delas é ambivalente: possuem um grande status na sociedade, mas ao mesmo tempo não são consideradas mulheres respeitáveis", diz a antropóloga americana Liza Dalby, que fez uma tese de doutorado e publicou um livro sobre o tema, Gueixa. Apesar de algumas gueixas realmente se tornarem amantes de seus dannas - uma espécie de patrocinador que banca o elevado custo de treinamento dessas mulheres -, não é correto confundi-las com prostitutas de luxo.

Também é falsa a idéia, bastante comum no mundo ocidental, de que elas são um estereótipo da mulher submissa, cujo objetivo na vida é satisfazer um homem. Na verdade, as gueixas têm existência muito independente e participam ativamente da vida social, sendo responsáveis por suas carreiras e sem terem as preocupações familiares das mulheres comuns, pois não costumam se casar. Uma garota se torna aprendiz de gueixa (maiko) por volta dos 17 anos, após estudar as artes tradicionais japonesas (como o origami), história, poesia e canto, aprender a tocar instrumentos musicais, ter aulas de postura e de tarefas domésticas. Todo esse treinamento é feito em casas chamadas oki-ya, nas quais o acesso é extremamente restrito para pessoas que não fazem parte desse mundo reservado das gueixas.

Visual simbólico

Roupa e até penteado têm significado especial

Deu branco

Há tempos as mulheres japonesas clareiam o rosto com um pouco de maquiagem branca. As gueixas exageram na dose para fazer valer a reputação de símbolos de beleza

Afinadas

O shamisen é um antigo instrumento de cordas do século 17. Até há pouco tempo, todas as gueixas sabiam tocá-lo. Hoje não é mais obrigatório

Pano pra manga

O quimono não só é a roupa de trabalho de uma gueixa como também permite identificar o grau de experiência dela. Aprendizes usam mangas mais longas

Fio da suspeita

O jeito como elas prendem o cabelo repete penteados tradicionais do Japão. Pela praticidade, algumas gueixas usam uma peruca sobre o cabelo natural

Como era a vida das gueixas?

Era – e é – bastante regrada, com um treinamento rigoroso para que elas desempenhem com perfeição sua função. Basicamente, a missão delas é a mesma desde o século 18: transformar reuniões profissionais ou sociais de homens poderosos em momentos extremamente agradáveis. Em japonês, gueixa significa “praticante da arte”. No auge da popularidade, perto de 1900, havia 25 mil no Japão. Hoje são cerca de mil.

Consideradas um marco da cultura tradicional japonesa, elas ficam ofendidas ao serem confundidas com prostitutas. Para não haver enganos, amarram seus quimonos nas costas (as profissionais do sexo o fazem na frente). Uma curiosidade: no século 17, as primeiras gueixas eram... “gueixos”! Isso porque as restrições sociais da época não permitiam que diversão e entretenimento fossem oferecidos por mulheres.

RIGOROSO PADRÃO

Da seleção à “formatura”, conheça todos os passos até uma garota se tornar gueixa

TROCA DE FAMÍLIA

As garotas costumavam seguir para os oky-ias (a casa das gueixas) com 6 anos. Hoje, vão por volta dos 15. Lá, viram maikos (aprendizes) e ganham outro nome. Além disso, “trocam de família”: a okasan (dona da oky-ia) assume o papel de mãe e as outras gueixas, de irmãs.

TRABALHO DURO

Na casa, as maikos fazem as tarefas domésticas e têm duas folgas mensais. Por quatro ou cinco anos, estudam diariamente instrumentos japoneses, como o shamisen (espécie de violão), canto, dança, línguas e até política internacional.

CHÁ COM CERIMÔNIA

As aprendizes também aprendem a falar e a andar graciosamente – equilibrando-se sobre altos tamancos de madeira. Há ainda ensinamentos sobre como servir bebidas delicadamente, sem molhar a manga do quimono. Os mestres são geralmente gueixas aposentadas bastante severas.

PENTEADO E PINTURA

As aprendizes levam horas fazendo o penteado e, para não desmanchá-lo, dormem sobre um tijolo de madeira (gueixas mais velhas podem usar peruca). As moças produzem a tinta branca para pintar rosto, pescoço e parte do tórax, ritual que consome pelo menos uma hora diária.

“NÃO VEJO NADA”

As gueixas devem fazer de uma reunião um sucesso. São contratadas por homens que querem fazer negócios e se divertir. Servem bebidas e comidas, cantam, dançam, conversam – nada de sexo. O código de ética exige a confidencialidade. Nada do que escutam pode ser comentado.

Gueixas podem ter “patrocinadores”: clientes assíduos que pagam caro por exclusividade. Alguns se tornam amantes e podem ter filhos.

SUPERQUIMONOS

Quando está pronta, a aprendiz ganha o status de geiko – e vários quimonos. O das maikos tem cauda, colarinho estampado, mangas enormes e obi (cinturão) largo em cascata nas costas. O da geiko é discreto, com colarinho branco e bordados suaves. Feitos de seda, custam cerca de US$ 10 mil. Um funcionário da casa as ajuda a vesti-los.

Uma sessão custa, em média, US$ 6 mil. As gueixas marcam o tempo do serviço com a ajuda de um incenso que queima em duas horas.

SERVIÇAIS FAMOSAS

A vida dessas profissionais já foi contada em livros, filmes e peças. A ópera Madame Butterfly conta sobre Cho-cho, uma gueixa real que se apaixonou por um oficial americano.

A mesma história de Cho-cho serviu de base para o musical Miss Saigon, um sucesso nos anos 1980. Mineko Iwasaki, a musa do livro e do filme Memórias de uma Gueixa, vive até hoje nos Estados Unidos.

Morreu em 2004 Kiharu Nakamura, considerada a última gueixa após a ocidentalização do Japão.

Fonte Revista Mundo estranho

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